Por Enf.º Me. Eliézer Farias de Mello
As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) representam um desafio persistente em ambientes hospitalares, especialmente nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), onde pacientes vulneráveis estão expostos a procedimentos invasivos e terapias complexas. A transição de uma IRAS para sepse é uma preocupação crítica, pois a sepse é uma resposta inflamatória sistêmica a uma infecção que pode levar à disfunção orgânica e morte. Estudos recentes indicam que mais de 24% dos pacientes com sepse associada à assistência à saúde e 52,3% daqueles tratados em UTIs não sobrevivem, evidenciando a gravidade dessa condição (WHO, 2022).
A sepse frequentemente se origina de IRAS não controladas, como infecções de corrente sanguínea associadas a cateteres centrais, infecções do trato urinário associadas a cateteres, pneumonia associada à ventilação mecânica e infecções de sítio cirúrgico. A Organização Mundial da Saúde destaca que a prevenção da sepse passa pela prevenção das infecções, enfatizando a importância da higiene adequada, uso racional de antibióticos e implementação de protocolos de controle de infecções (WHO, 2023).
A implementação de bundles de cuidados, que são conjuntos de práticas baseadas em evidências, tem se mostrado eficaz na redução de IRAS. Um estudo recente demonstrou que a adoção de medidas rigorosas de prevenção de infecções, incluindo a formação de equipes multidisciplinares e o uso de tecnologias padronizadas, resultou em uma redução de 47,5% na taxa de infecções (Souza et al., 2024). Esses resultados reforçam a necessidade de adesão estrita a protocolos de prevenção de infecções.
A vigilância contínua e a educação dos profissionais de saúde são componentes essenciais na prevenção de IRAS e, consequentemente, da sepse. O CDC enfatiza a importância de programas de prevenção de infecções e resistência antimicrobiana, que incluem a educação dos profissionais, auditorias regulares e feedback sobre práticas de controle de infecções (CDC, 2024). Além disso, a OMS lançou estratégias globais para fortalecer os programas de prevenção e controle de infecções, destacando a necessidade de investimentos sustentados nessa área (WHO, 2024).
A detecção precoce da sepse é crucial para melhorar os desfechos dos pacientes. O CDC desenvolveu elementos centrais para programas hospitalares de sepse, que incluem liderança comprometida, responsabilidade clara, expertise multiprofissional, ações específicas, rastreamento e educação contínua (CDC, 2023). Esses elementos visam integrar a prevenção de IRAS com a identificação e tratamento rápidos da sepse.
Em resumo, a prevenção eficaz de IRAS é fundamental para reduzir a incidência de sepse em ambientes hospitalares. A adesão a práticas baseadas em evidências, a implementação de protocolos padronizados, a educação contínua dos profissionais de saúde e o investimento em programas de controle de infecções são estratégias essenciais para melhorar a segurança do paciente e os resultados clínicos.
Referências
CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Core Elements of Hospital Sepsis Programs. Atlanta: CDC, 2023.
CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Healthcare-associated infections programs. Atlanta: CDC, 2024.
SOUZA, J. P. et al. Effectiveness of Central Line-Associated Bloodstream Infection Bundles in Intensive Care Units: A Systematic Review. Journal of Infection Control, v. 52, n. 3, p. 215-222, 2024.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Global Report on Infection Prevention and Control. Geneva: WHO, 2022.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Sepsis. Geneva: WHO, 2023.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Sustained investment in infection prevention and control programmes needed. Geneva: WHO, 2024.