A Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAV) continua sendo uma das principais complicações em pacientes submetidos à ventilação invasiva prolongada, representando um desafio crítico para as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Estimativas recentes indicam que a PAV eleva significativamente a morbimortalidade, prolonga o tempo de internação e aumenta os custos hospitalares (Klompas et al., 2022).
Por Enf.º Me. Eliézer Farias de Mello

Diretrizes atualizadas enfatizam a necessidade de implementação de pacotes de medidas (‘bundles’) para a prevenção da PAV. A Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA) e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recomendam intervenções como a elevação da cabeceira do leito entre 30° e 45°, interrupção diária da sedação, avaliação da prontidão para extubação, profilaxia para úlcera de estresse e para tromboembolismo venoso (Klompas et al., 2022). Essas estratégias combinadas são capazes de reduzir de maneira significativa a incidência de infecções respiratórias.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) reforça a importância da vigilância ativa das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) e da resistência microbiana, com a publicação da Nota Técnica GVIMS/GGTES/DIRE3/ANVISA nº 01/2024. Esse documento atualiza as orientações sobre a notificação obrigatória e monitoramento dos indicadores de IRAS, incluindo a PAV, ressaltando a necessidade de programas de prevenção e controle estruturados nas UTIs (Brasil, 2024a).
Entre as estratégias não farmacológicas mais destacadas está a elevação da cabeceira do leito, medida simples, porém eficaz na redução do risco de aspiração e subsequente desenvolvimento de pneumonia (Klompas et al., 2022). Outra prática atualizada é a higiene oral com escovação mecânica regular, que deve ser realizada sem a obrigatoriedade do uso de antissépticos como a clorexidina, devido a novas evidências sobre possíveis efeitos adversos dessa substância em pacientes críticos (Klompas et al., 2022).
A manutenção rigorosa da higiene bucal emerge como um pilar essencial no controle da PAV. A ANVISA, em seu manual de orientações atualizadas para o cuidado em UTIs, destaca a necessidade de protocolos padronizados de higiene bucal, mesmo em pacientes com intubação orotraqueal ou traqueostomia, priorizando a limpeza mecânica da mucosa oral e dos dentes (Brasil, 2024b). Essa prática visa reduzir a colonização bacteriana e, por consequência, as infecções respiratórias.
A equipe de enfermagem possui papel central na prevenção da PAV, sendo responsável pela execução diária dos cuidados preventivos. A utilização de checklists assistenciais, validados para a prática clínica, mostra-se uma estratégia eficaz para garantir a adesão às recomendações. Um estudo brasileiro recente validou um checklist composto por 22 itens distribuídos em quatro domínios, propondo sua aplicação prática para a prevenção da PAV em pacientes adultos internados em UTIs (Amaya et al., 2024).
O diagnóstico de PAV deve ser criterioso e baseado em sinais clínicos, achados radiológicos e resultados microbiológicos. A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo publicou novos critérios diagnósticos em 2024, especificando parâmetros adaptados para pacientes adultos e para contextos de COVID-19, com o objetivo de padronizar a vigilância e reduzir o subdiagnóstico ou o diagnóstico excessivo (São Paulo, 2024).
Diante dessas atualizações, fica evidente que a prevenção da PAV demanda uma abordagem multidimensional, envolvendo práticas assistenciais baseadas em evidências, educação continuada das equipes multiprofissionais, vigilância epidemiológica ativa e engajamento institucional. A adoção rigorosa das novas recomendações contribui de forma significativa para a segurança do paciente crítico, impactando positivamente nos desfechos clínicos e na qualidade assistencial das UTIs.
Referências
AMAYA, M. R. G. et al. Validação de checklist para verificação de cuidados preventivos da pneumonia associada à ventilação mecânica. Texto & Contexto Enfermagem, v. 33, e20220364, 2024.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Nota Técnica GVIMS/GGTES/DIRE3/ANVISA nº 01/2024. Orientações gerais para a vigilância das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS). 2024a.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Nota Técnica GVIMS/GGTES/DIRE3/ANVISA nº 04/2024. Higiene oral em pacientes hospitalizados em UTI. 2024b.
KLOMPAS, M. et al. Strategies to Prevent Ventilator-Associated Pneumonia in Acute Care Hospitals: 2022 Update. Infection Control & Hospital Epidemiology, v. 43, n. 6, p. 685–713, 2022. DOI: 10.1017/ice.2021.162.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Saúde. Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”. Critérios Diagnósticos para Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde. São Paulo, 2024.