
Por Enf.° Me. Eliézer Farias de Mello
A higiene das mãos é amplamente reconhecida como a medida isolada mais eficaz para prevenir infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS), especialmente em ambientes de alta complexidade como as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as IRAS impactam diretamente a morbimortalidade hospitalar e representam um ônus significativo aos sistemas de saúde, podendo ser prevenidas com a implementação consistente da higiene das mãos nos pontos de cuidado (World Health Organization, 2009).
Apesar de sua eficácia comprovada, a adesão à higiene das mãos entre profissionais de saúde ainda é subótima. Um estudo observacional realizado em uma UTI adulta de um hospital de ensino no Brasil revelou uma taxa de adesão de apenas 23,98%, com destaque para a baixa qualidade na execução da técnica, incluindo fricção inadequada das pontas dos dedos e polegares, além de tempo insuficiente para ação do antisséptico (Bortolini & Cardoso, 2023).
Para padronizar e promover a adesão às boas práticas, a OMS estabeleceu os “Cinco Momentos para a Higiene das Mãos”: antes de tocar o paciente; antes de realizar procedimento limpo/asséptico; após risco de exposição a fluidos corporais; após tocar o paciente; e após tocar superfícies próximas ao paciente. Essa abordagem visa garantir a segurança ao longo de toda a cadeia de cuidado (World Health Organization, 2009).
A fricção com preparação alcoólica é recomendada como a principal forma de antissepsia das mãos, sendo mais eficaz, rápida e menos agressiva à pele do que a lavagem com água e sabão, exceto quando as mãos estiverem visivelmente sujas. A disponibilidade de soluções alcoólicas no ponto de assistência é crucial para garantir a realização da higiene das mãos no momento certo (World Health Organization, 2009).
O uso de preparações alcoólicas, especialmente aquelas com concentração de 70%, tem se mostrado altamente eficaz na eliminação de microrganismos patogênicos. Estudos indicam que a concentração de 70% é ideal, pois a presença de água na formulação facilita a penetração do álcool na membrana celular dos microrganismos, promovendo sua desnaturação e morte. Além disso, o álcool em gel, por conter emolientes, tende a ser menos agressivo à pele, reduzindo a incidência de dermatites entre os profissionais de saúde (Instituto Federal de Santa Catarina, 2020).
No contexto brasileiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) implementou o Projeto de Implantação Nacional da Estratégia Multimodal de Melhoria da Higiene das Mãos em Serviços de Saúde para a Segurança do Paciente (2022-2023). O projeto visou avaliar o impacto da implementação de estratégias multimodais na melhoria da higiene das mãos em serviços de saúde, com foco na segurança do paciente (Anvisa, 2024).
Estudos recentes também apontam para a eficácia de campanhas educacionais na melhoria da adesão à higiene das mãos. A campanha “Hand Hygiene Heroes”, por exemplo, demonstrou que intervenções educacionais direcionadas podem aumentar significativamente as taxas de adesão entre profissionais de saúde, pacientes e familiares (AJIC, 2024).
A qualidade da técnica de higiene das mãos é tão importante quanto a frequência. Pesquisas indicam que a técnica adequada, incluindo a fricção de todas as superfícies das mãos por pelo menos 20 segundos, é essencial para a eficácia da prática. Além disso, a racionalização da técnica para três passos principais tem sido proposta como uma alternativa eficaz e mais fácil de ser adotada pelos profissionais de saúde (Bortolini & Cardoso, 2023).
O uso de luvas, embora essencial em determinados procedimentos, não substitui a necessidade de higiene das mãos. A OMS enfatiza que as mãos devem ser higienizadas antes de calçar as luvas e após sua remoção, pois as luvas podem apresentar microfuros ou ser contaminadas durante o uso. Além disso, o uso inadequado de luvas pode levar a uma falsa sensação de segurança e à negligência da higiene das mãos (World Health Organization, 2009).
Referências
World Health Organization. (2009). WHO Guidelines on Hand Hygiene in Health Care. Geneva: WHO Press.
Bortolini, J., & Cardoso, J. D. C. (2023). Adesão à técnica de higiene das mãos: estudo observacional. Acta Paulista de Enfermagem, 36, eAPE03631.
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). (2024). Relatório Nacional do Projeto de Implantação Nacional da Estratégia Multimodal de Melhoria da Higiene das Mãos em Serviços de Saúde para a Segurança do Paciente – 2022-2023.
American Journal of Infection Control (AJIC). (2024). Becoming hand hygiene heroes: Implementation of an infection prevention educational campaign.
Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). (2020). Como higienizar corretamente mãos, objetos e ambientes para eliminar o novo coronavírus.