“BUNDLE” DE IPCS

Por Enf.º Me. Eliézer Farias de Mello

Bundle de Inserção de CVC

O bundle de inserção de cateter venoso central (CVC) é uma estratégia baseada em evidências que visa padronizar práticas assistenciais, reduzindo a incidência de infecções da corrente sanguínea associadas a cateteres (IPCS). Este conjunto de medidas inclui a higienização das mãos, uso de barreiras máximas de precaução, antissepsia da pele com gluconato de clorexidina, seleção criteriosa do local de inserção e revisão diária da necessidade de manutenção do cateter.​

A higienização das mãos antes do procedimento é reconhecida como a intervenção isolada mais eficaz na prevenção das infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS). A fricção com preparação alcoólica para as mãos deve ser realizada antes e após qualquer manipulação do cateter, conforme as diretrizes da Organização Mundial da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A incorporação dessa prática ao bundle de inserção tem se mostrado fundamental para reduzir a transmissão de microrganismos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).​

O uso de barreiras máximas de precaução, como gorro, máscara, avental estéril, luvas estéreis e campos amplos, é essencial para manter um campo asséptico durante a inserção do CVC. Estudos demonstram que a ausência de barreiras completas está associada ao aumento do risco de IPCS, especialmente em pacientes críticos. A adesão rigorosa a essa etapa do bundle melhora os resultados clínicos e a segurança do paciente.​

A antissepsia da pele com gluconato de clorexidina a 2% em solução alcoólica deve ser realizada de forma minuciosa e respeitando o tempo de ação do antisséptico. Evidências mostram que essa solução é mais eficaz na redução da colonização microbiana do que o álcool isolado ou a povidona-iodo . O uso da clorexidina está consolidado nas recomendações nacionais e internacionais como padrão ouro.​

A seleção do sítio de punção deve priorizar a segurança do paciente e a redução de risco infeccioso. A veia subclávia, sempre que anatomicamente viável e clinicamente apropriada, é preferida em detrimento da veia femoral, associada a maior risco de infecção. Além disso, é essencial realizar a avaliação diária da necessidade do CVC, com sua remoção imediata quando não houver mais indicação clínica, contribuindo significativamente para a redução da taxa de IPCS.​

Bundle de Manutenção de CVC

A manutenção adequada do cateter venoso central (CVC) é fundamental para a prevenção de infecções da corrente sanguínea associadas a cateteres (IPCS), especialmente em unidades de terapia intensiva (UTIs). A implementação de bundles de manutenção, compostos por práticas baseadas em evidências, tem demonstrado eficácia na redução dessas infecções.

Entre as práticas recomendadas, destaca-se a higienização das mãos antes e após qualquer manipulação do CVC, utilizando preparação alcoólica a 70%, conforme orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS). A desinfecção dos conectores (hubs) com álcool isopropílico a 70% por, no mínimo, 15 segundos, é essencial para prevenir a colonização intraluminal e subsequente infecção.

A troca de curativos deve seguir critérios específicos: curativos transparentes devem ser substituídos a cada 7 dias, enquanto curativos de gaze devem ser trocados a cada 48 horas ou sempre que houver sujidade, umidade ou descolamento. A antissepsia da pele com clorexidina alcoólica a 2% é recomendada devido à sua eficácia na redução de microrganismos. ​

A inspeção diária do sítio de inserção do cateter é crucial para identificar sinais precoces de infecção, como hiperemia, dor, calor ou presença de exsudato. Em caso de suspeita de infecção, medidas imediatas devem ser adotadas, incluindo a coleta de culturas e a possível remoção do cateter.

A reavaliação diária da necessidade do CVC é uma estratégia eficaz para reduzir o tempo de permanência do cateter e, consequentemente, o risco de infecção. A remoção precoce do CVC, quando não mais clinicamente indicado, é uma prática recomendada. ​

A adesão às práticas de manutenção do CVC pode ser aprimorada por meio de intervenções educativas, como treinamentos e simulações clínicas, que têm demonstrado eficácia na melhoria das práticas de enfermagem relacionadas à prevenção de infecções.

A implementação de bundles de manutenção do CVC, aliada à educação contínua da equipe de saúde, é essencial para a prevenção de infecções da corrente sanguínea em pacientes críticos. A adesão rigorosa a essas práticas contribui significativamente para a segurança do paciente e a qualidade do cuidado em UTIs. ​

Referências

  • AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Diretrizes para prevenção de infecções relacionadas à assistência à saúde. Brasília: ANVISA, 2023.
  • AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Programa Nacional de Prevenção e Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (PNPCIRAS) 2021 a 2025. Brasília: ANVISA, 2021
  • BARROS, M. M.; BRUNO, C. C. Custo-efetividade de intervenções para prevenção de infecções precoces em cateter venoso central. Revista Fisioterapia e Terapias, 2023.
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